Ancorado em camadas de estática e distorção, efeitos, samples obscuras, percussão étnica, guitarras distorcidas, e uma sonoridade industrial, Alambique é uma dose de rap cru e escuro, servido por batidas esqueléticas, pesadas, cavernosas e lentas, e letras sombrias e melancólicas, recitadas pela voz seca e amarga de NOTWAN.

Por entre jogos de palavras e aliterações, devaneios poéticos, e com um estilo de livre associação à MF DOOM, a voz de bagaço (segundo o próprio) de NOTWAN desdobra-se sobre temas como o seu alcoolismo entorpecedor (“Bagaço”), o comunismo do seu Alentejo natal (“A Árvore Do Olvido”) ou delírios de violência e sexo (“Xerazade”, “Dominam-Me Os Demónios”), algures entre o hedonismo melancólico de Bukowski e o niilismo de Bernardo Soares (com um vocabulário invejável, diga-se).

Eclético e surpreendente na sua sonoridade, este Alambique é uma destilação de várias referências, desde Blockhead a Lhasa e Kill The Vultures, embalado por interlúdios instrumentais que tanto nos transportam para o ambiente ártico e ermo de Biosphere como para o horrorcore de Fuse ou a amargura niilista de Nerve.

—Diogo Pereira

released September 15, 2023

Toda a música escrita, produzida, interpretada , misturada e masterizada par Mestre André entre 2011 e 2023, excepto:
Faixa 3 gravada e misturada par Nerve em 2018
Voicemail na faixa 6 par Monsieur Trinité
Faixa 8 produzida par Can I em 2020

llustração por Mestre André
Gráfico por Oficial Sulamite Preciosa

Sistema Intravenoso


Que 2020 será para sempre um ano de má memória coletiva, já há muito que sabíamos. Mas talvez não contássemos que 2021 fosse entrar a pés juntos, num esforço coletivo bem capaz de fazer esquecer o passado. É esta a sensação com que ficamos depois de rodar “New Universe”, malha em todos os sentidos da palavra orquestrada por Notwan, em conjunto com DJ Sims (figura maior do hip-hop eborense, que surge pela primeira vez ao lado de Notwan) e o norte-americano ofNazareth (membro da trupe Can’t Find a Villain e colaborador antigo do produtor português). Cinco minutos servidos de forma fria e com roupagens ruidosas e elétricas (pensem nas atmosferas abrasivas e garridas de Dalek), que servem como o cenário perfeito para o delivery tenso, mas cirúrgico de ofNazareth. Já no outro lado deste single, puxam-se os galões aos decibéis para - numa ausência de um pit - fazer balançar corpos e pescoços no conforto caseiro. Um pedaço de história para 2021 e acima de tudo uma simbiose feliz e há muito esperada entre Notwan e DJ Sims. Tudo isto coroado com um artwork exclusivo que só podia ser assinado pelo ilustrador Gonçalo Duarte.
—António M. Silva



Um sábio disse um dia que “uma música em que o beat mata o MC não é uma boa música, é um bom beat”. Remova-se então o MC e siga-se este beat - e que beat. Mortífero, redondinho, com voz própria e luxuriante, capaz de se narrar a si mesmo tal é a riqueza que os 4 minutos de “Thai Fai” carregam. Notwan assina em “Thai Fai” mais um elegante capítulo na sua história. De mood tropical e impregnado de nostalgia, sem esquecer aquele beat cheio de alma, anda tudo à roda numa malha que tem hit de verão escrito por toda a parte. Para ouvir à noite num descapotável, num verão perto de si. O artwork lindo é da Zarolina.
—António M. Silva